sábado, 26 de janeiro de 2008

Eu e minha boca grande

Já te aconteceu de dar um fora daqueles, mas daqueles bem fora mesmo, daqueles que a gente depois não sabe como consertar? E vai explicar depois, que não é bem isso que a gente quer dizer...

Eu já disse aqui que falo demais, e segundo minha saudosa avó, quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Pois é, dá bom-dia, boa-tarde, boa-noite... Mais de uma vez eu disse coisas que depois não tinha como consertar. E fora é coisa do capeta, se você tenta consertar aí é que fica feio mesmo. E normalmente nascem daquelas conversas que nem tem razão de ser, perfeitamente dispensáveis.

O fora mais antigo que consigo me lembrar, que deve ter se dado logo no início de minha carreira de "forista", foi na quinta série. Estávamos eu e uma colega de escola, enorme ela por sinal, muito maior que todas da minha classe, um verdadeiro monstro, sentadas no banco de reserva na hora da Educação Física, assistíamos ao jogo, quando o seguinte diálogo se passou:

- Jogam bem as meninas, né?

Como ela nunca me dera bola, apressei-me a concordar, claro que jogavam muito bem sim.

- E o que você acha da Marisa?

Naturalmente queria saber das qualidades técnicas da garota, mas a tonta aqui que tava com a tal Marisa atravessada (a guria não me passava) e com a santa honestidade que Deus me deu (em má hora, diga-se de passagem):

- Ah, uma vagabunda!

E ante os olhos atônitos da colega dois-metros-maior-que-eu-tanto-em-altura-como-em-largura, fui desfiando o que eu realmente achava da dita cuja. Infelizmente, empolgada com a descrição das "qualidades" da mencionada jogadora, nem percebi os olhos dela, esbugalhados de espanto. Quando acabei de falar ela, lívida, me explicou:

- Marisa é minha sobrinha, sou irmã caçula da mãe dela. E me espere na saída da escola.

Fiquei ali, atarantada, perguntando que mal eu fiz pra Deus, imaginando alguma doença, qualquer coisa que pudesse ser forjada a fim de ir embora mais cedo pra casa, adiando assim o tal encontro "na saída da escola".

Bem, não deu. Na saída a tal colega me esperava com seu uniforme que mais parecia uma barraca de camping de tão grande que ela era e uma cara de botar medo aos capetas no inferno.

Surra? Claro que levei, e das boas, e mais ainda teria apanhado se não tivesse aproveitado um momento de hesitação dela (foi tomar fôlego pra me bater mais ainda) e seu tamanho avantajado e não tivesse escapado passando por debaixo das pernas dela. E corri, hein? Meu Deus, como eu corri...

Depois desse, dei muitos outros foras, de maior ou menor gravidade, claro que com consequências (físicas, pelo menos) menores e menos doloridas. Mas eu não sou a campeã, tenho uma amiga que se poderia chamar de "Rainha dos Foras". E não se emenda, dá um atrás do outro.

Há uns anos, na Festa do Peão da minha cidade, ocasião em que todas as entidades armam lá sua barraca pra vender alguma coisa e arrecadar fundos, essa prezada amiga dançou e bebeu a noite toda, lá pelas tantas, já meio "alegre", chegou numa dessas barracas, bateu com a mão na mesa e exclamou, em alto e bom som:

- Quero uma cerveja, mas que seja uma cerveja bem gelada, de cerveja quente eu já to cheia!

Todos nas mesas vizinhas pararam com seus copos no ar, olhando-a. Ela não entendeu nada até que se aproximou dela uma mocinha, e em voz mais ou menos baixa lhe disse:

- Moça, aqui é a barraca da Liga Anti-alcoólica. Só temos refrigerante. A senhora não quer uma Coca-cola?

Ela não queria. Saiu de lá aos trambolhões, procurando um buraco pra se enterrar.

(escrito por Zailda Mendes)

4 comentários:

  1. Nossa, parece parte do meu diario de adolescente...
    Nunca apanhei, mas até hoje, muitos e muitos anos, ainda uso meu bocão para me me meter em situações constrangedoras!

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  2. meu maior fora foi quando visitei um amigo da familía que estava doente.
    é logo apos uns 15 dias depois o cara morreu sò que eu naõ fiquei sabendo.
    encontrei com a esposa que no momento ja era viuva porém naõ sabendo hum imaginer o que procurei com minha boca grande .
    claro eu queria saber noticias do amigo é logo procurei cade {fulano}ela logo respondeu está com Deus .
    que vexame no momento passei imagine .

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  3. Poxa, Anônimo 1, você deve me entender, até hoje eu dou meus foras, de vez em quando dou um daqueles que dá vontade de fazer como avestruz e enfiar a cara num buraco.

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  4. Anônimo 2, eu já dei fora no velório! Entrei na fila de pêsames e quando chegou minha hora, adivinha, soltei um "meus parabéns!". A viúva ficou com cara de tacho e eu mais ainda. Pior que era um desses casos que a viúva ficou bem melhor sem o falecido, que só servia pra beber e arrumar outras mulheres. Mas na hora foi duro para consertar. Pior foi depois, me deu uma crise de riso que eu tive que ir embora do velório, sob o olhar de indignação das pessoas mais próximas. Nada contra o falecido, mas não consegui me controlar.
    Um abraço.
    Zailda Coirano

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