sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Como aprendi a nadar

Conhece alguém que tem bronquite? Mas daquelas de arrebentar mesmo, que quando a pessoa respira parece que tem um gato desses novinhos dentro do peito, tamanha é a chiadeira? Pois era dessas mesmas que eu tinha, quando dava a crise eu tinha que dormir com uma pilha de travesseiros, sentada, porque senão não conseguia respirar. E tentaram comigo tudo quanto era tratamento: os de choque, os de injeção (daqueles que você toma injeção um dia sim e no outro também), os experimentais, os populares (leite de égua), os espirituais (novena pra sarar), e sabe-se lá que mais foi tentado. Mas tudo em vão. Quando a crise vinha era de amargar, febrão danado, sensação de asfixia e uma tosse que deus-me-livre.

Aos 12, 13 anos o médico achou que já se havia tentado e tudo e que agora meu corpo é que tinha que vencer a doença, então pediu à minha tia, aquela santa senhora que fazia tudo por mim, talentosíssima em chantagens emocionais, que ficasse sócia de um clube, desses com piscina, pra que eu aprendesse a nadar. Nadando eu desenvolveria a caixa toráxica e...

Quando ouvi isso quase sarei da crise na hora. Devo ter arregalado tanto os olhos que por milagre não pularam das órbitas. Piscina? Clube? Ai meus sais que eu quase tive um desmaio de tanta emoção. E cobrei tanto o tratamento que em poucas semanas já estava no clube. E de biquini!

Como eu fiz pra convencer minha talentosa e prestimosa tia a me comprar um biquini em vez de um maiô é outra história e bem mais longa que essa. Não é por nada não, caro leitor, mas não era só minha tia a talentosa da família...

Mas como ia dizendo, lá estava eu no clube, a piscina à minha frente, aulas com o professor de natação... mas quem disse que eu aprendia? Era uma tortura a hora da aula, ainda bem que durava apenas uma hora. Em matéria de natação eu era como um peixe: se caísse na água não saía sozinha, tinham que entrar pra me tirar.

Mas como o dia tem 24 horas, das quais eu passava o máximo possível no clube, e a aula durava uma horinha apenas, isso não me abalou. Logo descobri outros encantos no tal do clube. E não é que conheci um moreno alto, atlético, olhos verdes e campeão de natação? Em vez de aprender a nadar eu estava mais pra pescar. Joguei a rede e deu certo. Em poucas semanas estávamos namorando.

Ah, pode escancarar a boca à vontade de tanta admiração, se você está admirado caro leitor, admiração maior era a minha! Eu olhava para aquele deus grego e tinha que me beliscar o tempo todo pra ter certeza de que não estava sonhando. E logo já estava frequentando também os bailinhos de quinta e domingo.

Aprendi a dançar e comecei a sair à noite, já ia ao cinema (mas só na domingueira, que era a matinê de domingo), e quando eu ia embora o namorado me levava em casa! Nem precisa dizer que eu estava nas nuvens, tanto que nem ia mais às aulas de natação.

Você já deve estar imaginando que minha tia descobriu que eu estava namorando e "matando" a aula de natação, né? Bem, que ela descobriu sobre o namoro, descobriu mesmo, só que bem mais tarde. Quanto às aulas de natação, não teve como.

Um dia eu estava dando a volta na piscina (que era só o que eu sabia fazer), mas bem agarrada à borda, já que disso dependia minha vida, quando um engraçadinho me deu um "caldo", mas daqueles bem dados, daqueles em que você não só afunda a cabeça de seu semelhante na água como também fica segurando-a lá embaixo. Foi quase tentativa de homicídio, porque além de não saber nadar também não sou peixe e não respiro dentro dágua.

O susto foi tão grande que pra me libertar saí nadando. E nadando cachorrinho, veja só.

(por Zailda Mendes)

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