quinta-feira, 12 de abril de 2007

Aula de educação sexual no Colégio Nossa Senhora Aparecida

Fui educada num colégio de freiras onde não aceitavam meninos, de forma que minha infância e grande parte de minha adolescência foi influenciada pela educação católica que eu recebia lá.
As alunas da escola pertenciam à nata da sociedade araçatubense, da qual eu nunca fiz parte (graças a Deus), mas como minha tia dava aulas lá matriculou-me antes que eu entendesse exatamente onde eu estava.
A maior sensação foi quando, na oitava série, fomos avisadas por uma emperdigada madre superiora que a partir da semana seguinte teríamos aulas de educação sexual. Nos entreolhamos, assustadas, mas antes que fizéssemos qualquer comentário ela, nos olhando por cima dos óculos ameaçadoramente plantados na ponta do nariz nos avisou que nenhum tipo de gracinha ou risadinha seria tolerado.
As aulas eram dadas (para nossa total frustração e assombro) pela própria madre, e as perguntas deviam se limitar ao que estava sendo tratado, tomando-se todo o cuidado para não usar palavras chulas (ou seja, não dar nome aos bois), atitude que seria severamente punida.
Lembro-me que numa dessas aulas aterrorizantes uma colega foi pra sala da madre superiora logo após perguntar o que era "corrimento", de forma que raramente nos atrevíamos a fazer qualquer tipo de comentário ou pergunta.
A aula era cercada de uma atmosfera de gravidade e rigor absolutos, talvez para não permitir que nos empolgássemos com o assunto e perguntássemos coisas além do que se queria que soubéssemos.
Minhas colegas de classe eram mais velhas que eu, e tenho certeza que algumas já conheciam o assunto na prática, mas eu assistia às aulas já a algum tempo sem fazer a menor idéia do que se tratava.
Certo dia nossa distinta educadora, depois de desenhar um útero que parecia uma pera e um par de braços compridos (as trompas, creio eu) começou a discorrer sobre o fato de que na mulher casada (como fez questão de frisar) existia um certo "bichinho" que penetrava nos óvulos e daí vinham os bebês.
Eu olhava pasma para aquela figura que mais parecia uma lâmpada maravilhosa de Aladim e me perguntava onde ficaria aquilo. Na cabeça? No nariz. Não, certamente no ouvido. E, intrigada com a preleção levantei tímidamente a mão para fazer uma pergunta.
Após ignorar-me solenemente por alguns minutos (na certa esperando que eu desistisse) a madre pigarreou e, fuzilando-me com o olhar me disse um "sim?" que me derrubaria de pavor se eu não estivesse sentada. Levantei-me e, com a voz sumida e entrecortada pela timidez, perguntei:
- Mas como o "bichinho" sabe que a mulher é casada?
Ouviram-se algumas risadinhas abafadas no fundo da sala, rapidamente coibidas por duas estrondosas pancadas com uma régua de madeira que nossa querida educadora sempre trazia à mão (para facilitar as explicações, segundo ela. Ou para nos intimidar, conforme ficou provado em inúmeras ocasiões). Cessado o princípio de baderna, ela me olhou com ar de superioridade e me respondeu, da forma mais convicta que lhe foi possível:
- Porque usam aliança.
E já ia se virando novamente pra nos mostrar mais alguns detalhes da dantesca figura reproduzida na lousa, mas aí foi demais para minhas colegas espertinhas. Começaram a rir por debaixo da mão com que cobriam a boca, tentando não cair na gargalhada. Mas não foi possível. Em segundos a classe estourava inteira numa gargalhada colossal.
Depois da bagunça que se seguiu, ficou claro que perdêramos para sempre nossas tão esperadas aulas de educação sexual. Mas enquanto a classe se escancarava de rir eu estava alheia a tudo, esforçando-me por arrancar, às pressas, a aliancinha que tinha na mão direita, dessas que vem junto com um doce, enquanto filosofava, assustada, sobre os insuspeitados perigos que corre uma mulher hoje em dia.

(escrito por Zailda Mendes)

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