Lição de casa é aquela coisa chata da qual o professor e os pais fazem questão e que o aluno faz questão de não fazer. Acontece que para aprender – ou descobrir quanto aprendeu – é necessária, mas vá tentar enfiar isso na cabeça de um aluno!
Sempre fiz a minha direitinho – e até levava uns croques quando não lavava as mãos antes de fazer. Era tudo ali no capricho, letra desenhada e se tivesse que apagar, que não deixasse ali nenhum vestígio do crime, ou lá viriam mais sermões…
O mundo gira, as coisas mudam mas algumas coisas parecem imutáveis: o aluno de hoje odeia lição de casa tão ou mais visceralmente que a aluna que eu fui, 40 anos atrás. Com internet, TV, games, baladas (que começam a frequentar aos 13, 14 anos) já não há nem aquela minoria que gostava de apresentar um trabalho caprichado ao professor. Os poucos que fazem não é com aquela vontade, e fazem com o msn ligado.
Segunda-feira, dia de recolher a tarefa de uma classe de quinta série, todos na faixa dos 10, 11 anos. Um deles, uma porcariazinha de pouco mais de 1 metro, mal chamo seu nome se levanta e vem em minha direção. Fica em pé à minha frente e com uma desfaçatez que quase me faz titubear, pigarreia e lasca:
- Esqueci o livro no carro de meu pai e meu cachorro comeu meu livro.
“Ah, não!” – penso eu – “Agora vai me jogar aquela famigerada “the dog ate my homework”!”
E não é que a porcariazinha não se deixa intimidar e mesmo eu arqueando uma das sobrancelhas em sinal de aviso prévio de “problemas” continua:
- Uma parte ele engoliu, mas o que sobrou ficou todo babado, tive que jogar fora.
O garoto leva jeito pra coisa, determino mentalmente que será um grande conquistador daqui a 3 ou 4 anos. Talento para mentir não lhe falta, nem pisca o danado.
Desisto do sermão, a classe já olha a cena com crescente interesse, alguns ensaiam uma risadinha diante de tão talentoso cara-de-pau. O garoto sorri. Pego meu caderno e enquanto rosno um “an-han” boto um “xis” em vermelho na frente do nome do garoto e digo qualquer coisa sobre comprar urgentemente ração para o cão antes que coma o computador, e sigo em frente com minha correção.
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