quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Verdade ou mentira?

O caríssimo leitor aí pode até achar que estou mentindo quando conto o que me lembro dos tempos de colégio, mas se duvida é porque vive outra realidade. Nem passa por sua cabeça como era naquele tempo, quando não havia televisão pra entortar nosso caráter, internet pra nos expor aos pedófilos. Aliás nem tinha pedófilo, se tinha era com outro nome. A gente chamava tudo de “tarado”, fosse ele interessado em se mostrar em público ou em sapatos. Não havia toda essa “classificação” detalhada que há hoje em dia, acho que até ser tarado era mais simples, sem tanta especialização no mercado.

Era bem simples educar, creio eu. Bastava dizer que não podia e pronto. Se alguém se metesse a besta de fazer o couro comia. E ninguém era denunciado ao conselho tutelar – que nem existia. Criança não tinha direitos, além do de ficar calada. Se abrisse a boca era pra dizer: “Sim, senhor.”

Pedíamos bênção antes de dormir e não íamos pra cama sem nossa última oração do dia, na qual pedíamos a Deus que protegesse nossa família e até os professores que nos torturavam durante o dia - como se eles precisasem de proteção! E quem nos protegia deles?

Professor já não podia bater quando eu estava na escola, mas uns beliscões de vez em quando ou uns croques na cabeça eram considerados fundamentais para um ensino de boa qualidade e também para nos mostrar nosso lugar.

Nosso lugar era nenhum, não podíamos ir à sala ou a qualquer outro ambiente onde houvesse visitas; não podíamos sair sem pedir autorização e fornecer um roteiro detalhado; namorar era quase que um crime, punido com prisão domiciliar; mesada era uma coisa “que os ricos davam a seus filhos” e que portanto não deveríamos nem sonhar em ter; escolher nossas roupas era algo a que só teríamos acesso “quando deixássemos nossa casa e pudéssemos nos sustentar por nossa conta”.

As regras eram impostas e era difícil cumprir a todas – eram muitas e à medida que crescíamos elas aumentavam, já que os perigos também cresciam.

Criança pequena tinha o risco de crescer mal-educada ou de se machucar; na adolescência havia o risco de “nos perdermos”; depois havia o risco de engravidar e assim desgraçar para sempre com nossa reputação e com a honra de nossa família.

Acho até que as crianças tinham muito mais deveres do que os adultos. Ou talvez eles descontassem nos mais fracos todas as pesadas regras que a sociedade lhes impunha. Era uma época de ditadura, de monarquia. Se sabíamos alguma coisa sobre Democracia era o que líamos nos livros de escola e éramos obrigados a recitar sem nexo nas provas orais. Democracia era uma palavra a mais dentre as milhares que éramos obrigados a decorar. Mas que nunca nos permitiam praticar.

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