A madre superiora assombrou meus dias e minhas noites por 8 anos. Durante todo o ensino fundamental era a primeira pessoa que eu via, plantada à porta do colégio ou com uma régua em punho ao pé da escada, medindo as saias das alunas para assegurar-se que não estivessem mais que 5 centímetros acima do joelho.
Com os óculos minúsculos, por cima dos quais nos lançava olhares fulminantes por simplesmente existirmos e sua pesada régua de madeira que não hesitava em deitar sobre a mesa com estrondo pavoroso para nossos ouvidos medrosos, era a figura mais ameaçadora, que tanto povoava meus dias na escola, como meus pesadelos noturnos.
Aos quinze anos - já não estudava mais no colégio - eu estava um dia no portão de minha casa quando uma figura trajada de negro e de longas abas esvoaçantes, encarquilhada ao peso de uma horrenda mala marron aproximou-se, tomou fôlego e depositando a mala no chão, cumprimentou-me. Era a madre superiora.
Meu primeiro impulso foi correr, distanciando-me desse fantasma vindo diretamente da infância para me assombrar em plena luz do dia, mas o pavor paralisou-me. Fitei boquiaberta a estranha figura que me sorria.
Vi à minha frente apenas uma velhinha de óculos, encarquilhada pelo peso da idade, sorrindo que nem boba para uma aparvalhada como eu. Falou algo sobre uma viagem, o peso da mala (na certa insinuando que eu a ajudasse a levá-la até o colégio. Pediu um copo dágua.
Em silêncio fui buscar o copo, e foi com muita força de vontade que impedi-me de cuspir dentro antes de entregá-lo à madre. Ela, a exemplo dos outros seres humanos, tomava água. Percebi que suava, algo que nunca notara antes. Que arfava de cansaço e de calor. Era apenas uma velha.
Tagarelou um pouco mais, e vendo que eu não reagia, disse um "então vou andando", agarrou a mala e partiu. Fiquei olhando aquela velha enrugada e curvada arrastando aquele fardo até que virou a esquina. Era apenas uma velha. Não havia mais razão para ter medo. Eu estava livre e a salvo.
(zailda coirano)